Valerian é o mais recente audaz projecto do visionário realizador Luc Besson, responsável por clássicos cinemáticos com “Leon: O Profissional” e “O Quinto Elemento”. Este novo projecto é baseado numa colecção de novelas gráficas de nome “Valerian and Laureline” as quais insipiraram inúmeros contos e obras de ficção científica e com Dane DeHaan e Cara Delavingne nos papéis principais.
Os trailers do filme prometiam visuais assombrosos e únicos e nesse aspecto o filme cumpre em todos os sentidos. A estética visual de Valerian é inconfundível, desde a composição de planos, às cores, ao guarda roupa, ao design de produção, nada é cópia, tudo é único e inovador demonstrando os talentos e a criatividade de Besson. Toda a mitologia e construção do universo apresentado é Valerian tem inegavelmente imenso trabalho e dedicação, com belíssimos efeitos especiais que são uma delícia para a vista e dão imensa vida a todas as espécies, naves e ambientes em que as personagens se encontram. Tudo isto uma boa promessa e premissa, as quais o argumento rapidamente ajuda a deteriorar.
O maior problema de “Valerian e a Cidade dos Mil Planetas” é mesmo esse, o argumento que, ao contrário de tudo que é apelativo à vista e nos distraí por momentos, não parece que teve cuidado ou vigia nenhuma. Desde personagens mal trabalhados, a diálogos que parecem ter sido escritos à pressa ou improvisados sem supervisão do realizador/argumentista, às fraquíssimas tentativas de comédia, as omissões de pontos na história que abrem incontáveis buracos dos quais não podemos parar de pensar.
Quando o progresso de personagens num filme pode ser resumido a uma conversa na primeira cena em que conhecemos Valerian e Laureline e à conversa que ambos têm novamente no fim, seria muito melhor termos lido um livro, pois o primeiro trabalho de um filme é mostrar e não contar.
A edição também é muito desigual, e esta é mais notável nas cenas de acção. Quando temos grandes tiroteios, ou quando vemos Valerian a atravessar paredes num único plano sem corte, tudo bem. Ficamos imersos e investidos na acção, a geografia dos personagens e do espaço onde estes se encontram é clara e evidente. O problema é quando passamos ao combate corpo a corpo, inúmeras vezes o corte é claro para não vermos o personagem ser atingido, para não falar de quando vemos a cara dos duplos no suposto lugar do actor.
Inexplicávelmente, o filme também sofre dos ADRs menos profissionais que me lembro de ver recentemente num blockbuster, diria até vergonhoso.
Dito isto, não quero parecer que estou a ser mais duro com o filme do que ele merece, o filme é audaz tal como o seu realizador, e os primeiros 10 minutos são uma maravilha de como desenvolver uma narrativa cinematicamente, mas com tanta promessa, ainda são mais notáveis os erros que seguem as seguintes 2h10m de filme.
Na minha cabeça, “Valerian e a Cidade dos Mil Planetas” será um daqueles filmes que desenvolve uma fan base de culto, a qual investe no filme e espalha o seu amor pelo mesmo, e com todo o direito, à muito coisa da qual gostar em Valerian, mas torna-se uma narrativa desigual, com tom desigual, personagens sem qualquer desenvolvimento, uma dupla de estrelas sem qualquer química mas sem qualquer apelo ou trabalho e dedicação de nota para além dos visuais.
Texto escrito por Renato Vieira