Miley Cyrus lançou ontem o seu sétimo álbum de estúdio. ‘Plastic Hearts’ marca uma nova fase da vida – profissional e pessoal – da cantora num conjunto de doze temas originais que primam pela honestidade.
Desde cedo nos habituámos a ver Miley Cyrus a interpretar personagens. A cantora norte-americana tentou romper a sua ligação a Hannah Montana com ‘Bangerz’, lançado em 2013. Na altura, este projeto marcou não só uma nova fase no desenvolvimento musical de Cyrus, mas também criou uma imagem que, ainda hoje, está extremamente ligada ao lado mas controverso da artista.
Em 2017, Miley Cyrus deu a conhecer ao mundo uma nova versão de si com o álbum ‘Younger Now’, trabalho onde os principais destaques são ‘Malibu’ e ‘Younger Now’, tema que intitula o sexto trabalho da cantora. Em 2019 foi lançado ‘She is Coming’, um EP através do qual Cyrus deu a conhecer o seu lado mais ligado ao rock, sem nunca esquecer a sua ligação a causas sociais como o respeito pela figura feminina e a igualdade de direitos entre géneros e etnias.
‘Plastic Hearts’ é feito de tudo, menos de plástico. O novo trabalho de Cyrus é verdadeiro, honesto e desconcertante. O tema de abertura, ‘WTF Do I Know?’ apresenta-se como uma verdadeiro grito de revolta e de mudança, expondo desde cedo a temática e o foco que ‘Plastic Hearts’ tem ao longo da sua tracklist. Neste álbum existem alguns temas que nos vão relembrando do passado musical de Cyrus, temas como ‘Gimme What I Want’ poderia facilmente pertencer a ‘Can’t Be Tamed’, álbum lançado em 2010.
Se por um lado o tema que dá nome ao mais recente trabalho discográfico de Miley Cyrus passa despercebido, por outro lado, temas com ícones da música rock como Billy Idol e Joan Jett fazem com que todo o álbum se destaque não só pelo novo estilo da cantora do Tennessee, mas também pela honestidade máxima em todas as faixas, seja ela positiva ou negativa para com Cyrus. ‘Angels Like You’ e ‘Never Be Me’ são temas introspectivos onde a artista se questiona sobre as suas decisões passadas.
‘Prisoner’ é um tema de liberdade e a lembrança do passado pop de Miley Cyrus e, talvez por isso mesmo, conte com a colaboração de um dos ícones mais recentes deste género musical: Dua Lipa. ‘High’ é não só uma balada honesta onde a artista norte-americana partilha a sua dualidade de sentimentos através de versos como “I don’t miss you / but I think of you and I don’t know why” (Eu não sinto a tua falta / mas eu penso em ti e não sei porquê), mas também o reflexo da sua ligação às suas raízes country, contando com o arranjo de Mark Ronson.
‘Never Be Me’ e ‘Golden G String’ são os últimos dois temas originais de ‘Plastic Hearts’. ‘Never Be Me’ é, na nossa visão, um verdadeiro desabafo através dos versos ‘if you’re looking for stable / that’ll never be me / if you’re looking for faithful / that’ll never be me” (Se procuras estabilidade/essa nunca serei eu/ Se procuras fidelidade/ essa nunca serei eu” transformando-se assim num hino de honestidade com um sentido real de auto-conhecimento e independência, distanciando-se assim de temas como ‘Wrecking Ball’, onde Cyrus assumia uma certa dependência emocional.
Miley Cyrus é muito mais do que a quantidade de pele que mostra ou a irreverência que sempre a caracterizou. Sendo alvo da crítica – muitas vezes injustificada – a cantora apresenta-se, através de Plastic Hearts, como uma das artistas mais versáteis e honestas da indústria musical norte-americana. Cyrus não é movida por números ou pelas tendências musicais. Neste momento, Cyrus é verdade, versatilidade e vulnerabilidade, num álbum que é tudo, menos plástico.