Quando falamos em Black Mirror, muitos ainda se lembram do momento que nos marcou a todos logo no primeiro episódio: o primeiro-ministro britânico de frente para um porco numa situação um pouco desagradável.
Black Mirror já há muito que marcou o seu legado na cultura pop por trazer histórias que brincam com as relações humanas e a influência da tecnologia. Mesmo nos seus piores momentos, como The Waldo Moment, ainda assim havia algo a ser dito, como a reflexão de um sistema político e uma sociedade a milímetros de ser destruída, ou também nos momentos felizes de episódios como San Junipero, temas como as implicações de uma “vida após a morte”.
Hoje, a quinta temporada de Black Mirror chegou ao catálogo da Netflix e nós tivemos acesso aos episódios para poder analisar os mesmos aqui no Tuga POP.
Striking Vipers
De longe o melhor episódio da temporada, Striking Vipers é o que melhor analisa as implicações da tecnologia nas relações das personagens. Danny (Anthony Mackie), casado, pai de um filho e tentando manter o seu casamento com a esposa Theo (Nicole Beharie), recebe um presente do seu melhor amigo Karl (Yahya Abdul-Mateen II). Um jogo de luta, aparentemente inocente, de realidade virtual, em que ele e Karl são personagens virtuais. Não leva muito tempo até que os dois se envolvam sexualmente dentro do jogo com os seus avatars. É interessante notar a maneira como a série apresenta os seus protagonistas como homens que levam as suas vidas reais com mulheres, mas que encontram o prazer um com o outro estritamente nas suas versões virtuais e não na realidade. A sexualidade torna-se difusa e ganha nuances até de fetiches, levantando a questões sobre fidelidade, família e sobre a própria sensação física em si.
Smithereens
Chris (Andrew Scott), motorista de uma aplicação que nos lembra da Uber, tem um plano, e esse plano é conseguir falar com Billy Bauer, o CEO da rede social fictícia que dá nome ao episódio.
Embora a mistura entre o clima de tensão com a comédia roça durante o episódio inteiro, ainda assim é um pouco triste ver que a discussão é encaminhada para o mesmo discurso de que as redes sociais são um mal do século XXI: pode não ser um debate completamente errado, mas é um pouco repetitivo para uma série como Black Mirror apresentar uma visão quase rasa do assunto. Assim como o Facebook, a rede social Smithereens consegue obter os dados do motorista com maior rapidez e precisão que a própria polícia que estava a tratar do caso, lembrando-nos o quanto cedemos a empresas como essas na vida real ao simplesmente aceitarmos os termos de uso para ter um perfil.
Rachel, Jack and Ashley Too
Rachel, Jack and Ashley Too poderia ser facilmente um filme original do Disney Channel, embora numa versão um pouco mais macabra do que o usual. A adolescente Rachel (Angourie Rice) enfrenta problemas em dar-se com os colegas na sua nova escola, mas encontra na boneca da sua ídola, a estrela pop Ashley O (Miley Cyrus), uma nova amiga para ajudá-la no dia-a-dia. Enquanto isso, a verdadeira Ashley vê-se às voltas com um plano da sua tia e empresária para deixá-la inconsciente e aproveitar-se da sua imagem.
Rachel, Jack and Ashley Too deve ser um dos episódios mais engraçados que Black Mirror já produziu: o ritmo parece emprestado diretamente de um filme adolescente que poderia ter facilmente Lindsay Lohan como protagonista nos seus dias de glória. Isso não é desmerecer o episódio, pois os tons de comédia estão muito bem empregues, e mesmo que o discurso do pop como uma música sem alma seja levemente tingido, as possibilidades tecnológicas apresentadas pela trama para uma grande indústria musical sem escrúpulos são interessantes e perigosos ao mesmo tempo.